Legenda da Fotografia nº6.

A mansão, a cama de dossel, os reposteiros de brocado e as almofadões de veludo azul! Tanta riqueza, tanta ostentação... para quê? Esperei-te a noite inteira. Morria de saudades dos teus cabelos ruivos, das tuas sardas e do teu eterno sorriso de rapazinho: não te via havia semanas! O coração batia descompassado enquanto vestia o meu vestido mais bonito, o teu preferido, o dourado.  Chegaste mais cedo do que o previsto; o jantar ainda nem havia sido servido. De facto, eu ainda me encontrava a tentar apertar a gargantilha de brilhantes quando adentraste o nosso quarto. Fiquei surpreendida, mas tão feliz! Pensei que a antecipação resultasse da pressa em estares comigo; das saudades de me veres. Lancei-te os braços ao pescoço – afastaste-os. Tentei, ainda, beijar-te – deste um passo atrás. Tentei, finalmente, a medo, muito a medo, olhar-te nos olhos – desviaste o olhar. Disseste, por fim: "Temos de falar". O meu coração passou a ter só uma leve e aflita batida de sobrevivência. E pegaste na tua grande mala de viagem, abriste o roupeiro, atiraste às cegas tudo o que pudeste lá para dentro. Depois, abanaste a cabeça, em negação, e reformulaste: "Não, Ana. É melhor não falarmos". Deixaste-me aqui e partiste. E sei que não voltarás.