Legenda da Fotografia nº4.

Oh, eu tinha sido a mais linda do baile, o vestido a brilhar como o céu de verão ou o azul cintilante dos teus olhos. Tantos jovens me convidaram para dançar, e eu, na minha doce e silenciosa alegria, experimentei o abraço caloroso de todos, o fervilhante ambiente da música que me embalava, mas que, simultaneamente, me acalorava e me depositava nas mãos cada vez mais quentes e transpiradas, taças de champanhe borbulhante, que agitavam ainda mais o meu coração palpitante e desejoso. Prometeste que dançarias comigo. Todavia, nem por um segundo me dirigiste a atenção. Dançaste com a rapariga de branco e a de rosa, até a de amarelo; rodopiaste com a minha prima, azeda e gorducha, e a amiga dela, que maltrata a cadelinha. Eu, cansada, o coração aos pulos, a arder de paixão e mágoa, quieta no meu amor, não consegui chorar. Nem uma lágrima. Não quis sequer saber os nomes daqueles que me haviam cortejado, e, quando tomei consciência de mim, estava sozinha no salão. Todos haviam partido, mas ninguém se lembrara de reparar que eu ficara para trás. Deitei-me no chão até amanhecer, sem que conseguisse conciliar o sono: doía-me tanto o peito! A minha vida parara, mas o relógio, esse, não, nunca, e as horas intermináveis passaram. Adormeci. Sozinha. Eu, a mais bela; a prometida do baile.