Legenda da Fotografia nº7.

Maria sabia que era uma tentação para mim. Quantas vezes não chegava eu a casa, e, não obstante nos encontrarmos na presença do meu marido, ela se insinuava, na sua fardazinha fétiche de empregadinha francesa, para a qual Joseph não olhava nem duas vezes, mas que me deixaxa com o sangue em brasa, olhando-me longamente por trás dos cílios ainda mais longos, passando a língua molhada pelos grossos lábios vermelhos, inclinando o busto farto sobre o meu prato, enquanto o enchia de sopa quente, ajeitando as meias de liga e abanando as ancas voluptuosas enquanto se afastava, na verdade imitando o maior cliché erótico de que me lembrava. Mas como funcionana! Sempre que ouvia os seus saltos altos às minhas costas, saltava alto o meu coração, e ela aproveitava-se do meu pudor, roçava o seu longo cabelo ondulado pelos meus ombros e perguntava-me, não, segredava-me perguntas em castelhano: "Quer café, senhora? Chá?", num tom exótico e morno.

Eu não queria sentir nada... daquilo, mas a minha pele agia por vontade própria. Reagia à Maria de uma forma... única. Em constante tensão, cheguei um dia mais cedo a casa, cansada do trabalho, e adormeci no sofá da sala. A tarde quente embalou o meu sono e os meus sonhos numa siesta, sonhos com a gargalhada rasgada de Maria e as cores vibrantes que dela emanavam. Acordei sobressaltada. Pressentira-o: Maria passava por mim, nua, convidativa, em direção ao seu pequeno quarto. E eu soube então que a seguiria.